quarta-feira, 30 de abril de 2014

PERIÓDICO DE ABRIL - SOBRE O CENÁRIO UNIVERSITÁRIO: A NECESSIDADE DA LUTA É REAL


PERIÓDICO DE ABRIL - SOBRE O CENÁRIO UNIVERSITÁRIO: A NECESSIDADE DA LUTA É REAL

A defesa de uma universidade pública, gratuita, com acesso irrestrito, ensino crítico e de qualidade é um expectativa – ou até mesmo um sonho – para boa parte dos sujeitos que frequentam/cursam o ensino superior, bem como, para diversas famílias que nutrem a expectativa de um dia ver os seus familiares ingressando neste espaço. Se de início a necessidade de passar em um processo seletivo – que na maioria das vezes coloca indivíduos com históricos diferentes para serem avaliados em critérios iguais – negando as suas experiências distintas de vida, formação e base material; em pouco tempo, não é difícil perceber que a própria universidade é um espaço que reproduz a lógica de desigualdade que perdura fora e dentro de seus muros. Para os raros privilegiados (é importante apontar que pouco menos de 8% dos jovens baianos, com idade universitária, entre 18 a 24 anos tem acesso ao ensino superior, no Brasil essa média sobe para 15%) o choque de realidade é ainda maior quando descobrem que a luta é muito mais dura e não se restringe aos problemas da categoria estudantil.
No campo nacional as universidades vêm sofrendo com os duros ataques de programas de Receitas próprias: Parcerias Público-Privadas (PPPs), Fundações de Apoio (venda de cursos de especialização, da cobrança de taxas de serviço, que entram na universidade pela porta dos fundos sem passar pelas instâncias burocráticas/democráticas das instituições universitárias), PROUNI e REUNI (Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais), que estabelecem como objetivos “criar condições para a ampliação do acesso à educação superior no nível de graduação, pelo melhor aproveitamento da estrutura física e de recursos humanos existentes nas universida­des federais”, que respectivamente: aumentam as vagas das universidades federais sem melhorar a estrutura e/ou ampliar o quadro de professores/funcionários, bem como, o enriquecimento das faculdades particulares e ampliação dos cursos à distância, que expandem a partir da lógica do desenvolvimento de competências, do empreendedorismo e da empregabilidade (pilares para a educação mundial tendo como financiadores o FMI e o Banco Mundial),  fazendo com que o ensino superior atenda a lógica do mercado: competição, indicadores de desempenho, gerenciamento por objetivos, maior controle por parte dos clientes/usuários, dentre outros.
Para o Banco Mundial a educação tem como função a formação de capital humano, que não se trata de outra coisa senão uma formação para o mercado de trabalho, uma formação de melhores empregados para o capital. Desta forma, a educação passa de direito a mercadoria, tendo o PROUNI como “carro chefe” desta mercadorização no atual governo, pois, através dele, injeta-se verba pública nas instituições privadas, já que a verba gasta pelo governo para manter um estudante numa instituição privada é equivalente ao custo de três estudantes numa instituição pública de ensino superior.
As universidades do estado da Bahia, em especial a UEFS, estão num cenário complicado de manutenção de suas atividades, tornando a permanência na universidade uma missão cada vez mais árdua para as três categorias (professores, técnicos administrativos e estudantes). Apesar das especificidades e das singularidades existentes pela diferença de classes que compõem hegemonicamente determinados cursos, alguns elementos são pontos em comum: 1 –a falta de subsídio para manter a infraestrutura do campus (redução/falta dos materiais de higiene pessoal, não existência e/ou precarização de laboratórios, manutenção/ampliação/melhoria dos ambientes de aula, incluindo quadras, CAU, estrutura e acervo precário da biblioteca e outros); 2 –a proletarização crescente dos estudantes (por falta de permanência estudantil, adentram o mercado de trabalho para vender sua força de trabalho antes mesmo de finalizar a graduação, garantindo que o ensino superior atenda a lógica do mercado) como uma alavanca para as reformas da educação, que impulsionam um ensino esvaziado em formação humanística e cultural dominado pela formação técnica; 3 –o grande nível de precarização na formação em diversas áreas (com falta de: professores, materiais de pesquisa, efetivação da extensão, instrumentos nos laboratórios, e materiais de estudos); 4 –dicotomização e rebaixamento do conhecimento científico (seja pelas teorias e pedagogias que reduzem o ensino do conhecimento científico, seja pelas condições de trabalho dos professores e técnicos, seja pelas condições de permanência estudantil). Esse pequeno exemplo mostra como as coisas estão relacionadas, boa parte dos problemas acima citados estão sendo acentuados pelo problema orçamentário das universidades estaduais baianas.
As últimas mobilizações estudantis que aconteceram no campus da UEFS foram acionadas pelos problemas dos cursos de odontologia, engenharia civil, licenciatura em educação física, medicina, licenciatura em história e engenharia de alimentos (e outros). Nos últimos meses, pudemos acompanhar até mesmo os cursos que historicamente se caracterizaram como formadores dos ditos “profissionais liberais”; vide exemplo: medicina, administração, ciências contábeis, direito e as engenharias; passando por uma crescente proletarização e se deparando com a necessidade de lutar pela melhoria estrutural nos respectivos cursos. Seria meramente coincidência a efervescência dos problemas vir justamente no momento da história em que as universidade estaduais baianas passam por ampliação de vagas e curso, e em paralelo a um corte exorbitante dos seus orçamentos? Não precisaríamos de estudos mais aprofundados para afirmar que no atual cenário lutar pela ampliação do orçamento universitário significa lutar pela ininterrupção da universidade. 
Enquanto homens e mulheres que constroem a história e trabalhadores em formação, precisamos afinar nossos instrumentos de luta, dar centralidade à pauta e unificar a luta com as demais categorias afetadas. A história não se faz sozinha, assim como a universidade. Desistir de LUTAR é desistir de CONSTRUIR! Coloquemos os nossos ideais nas bandeiras de luta e os nossos sonhos no punho cerrado, por uma universidade pública, verdadeiramente gratuita e socialmente referenciada no projeto da classe trabalhadora.

  

Coletivo Lutar e Construir
Feira de Santana – BA
30 de abril de 2014

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