domingo, 5 de abril de 2015

Sobre a fusão dos coletivos Lutar e Construir e Outros Outubros Virão

Esta carta tem como intuito esclarecer o motivo da fusão entre os coletivos Lutar e Construir e Outros Outubros Virão, bem como os elementos que permitiram esse processo e seus objetivos.

Histórico dos Coletivos

O Coletivo Lutar e Construir (LC) nasceu da necessidade de fundamentar teoricamente os membros do Diretório Acadêmico de Educação Física da Universidade Estadual de Feira de Santana-BA. O coletivo surgiu como um grupo de estudos e, posteriormente, tornou-se um coletivo político, composto por estudantes de Educação Física, para atuar na Universidade (local de estudo), na perspectiva de melhores condições de estudo e da construção de um movimento estudantil combativo.

O coletivo passou por um processo de expansão para os cursos de História e Medicina, pela necessidade de ampliar a política e a inserção na Universidade; bem como durante espaços na Executiva Nacional de Estudantes de Educação Física, tanto na Regional 3 (Nordeste) quanto nacionalmente. Assim, teve contato com estudantes de Educação Física da UNEB-Alagoinhas e, após um tempo de debate, estudo, atuação conjunta e concordância política, resolvemos criar um núcleo do LC em Alagoinhas. Essas expansões ampliaram as possibilidades de intervenção junto aos estudantes. Com o tempo, alguns dos estudantes se formaram, tornando-se trabalhadores, e permaneceram no coletivo por concordância política, auxiliando na formação, intervenção e organização do LC. Vale ressaltar que os trabalhadores do Lutar e Construir não tinham concordância com outras organizações atuantes em Feira de Santana.

O coletivo Outros Outubros Virão (OOV) surgiu no final de 2008, com o objetivo de formular sobre o movimento estudantil e as possibilidades de organização deste dentro e fora das entidades, como em centros acadêmicos, diretório central dos estudantes e entidades nacionais. Essa necessidade foi movida pelo Congresso dos Estudantes da UFPR daquele ano, pois demonstrou a urgência de se pensar sobre a atuação dos estudantes e possibilitou constatar que faltava entender o porquê da militância: aliar a prática à teoria. O nome do coletivo homenageia a revolução russa de outubro de 1917, a primeira revolução socialista, de inspiração marxista, a ser colocada em prática no mundo. Desde o surgimento, o coletivo passou por amplo processo de expansão, atuando em diversos locais de estudo e movimentos de área, colocando em prática uma militância voltada à reconstrução de um movimento estudantil combativo, com foco na formação política, no trabalho de base e na aliança com as demais categorias da classe trabalhadora, rumo à superação desta sociedade.

O Coletivo Lutar e Construir atuava na Universidade Estadual de Feira de Santana, dentro dos respectivos cursos (Educação Física, Medicina e História), nos diretórios acadêmicos, no diretório central dos estudantes ou fora desses instrumentos; em pautas específicas e no movimento geral da Universidade e outros relacionados, como a pauta do transporte e da saúde. O núcleo Alagoinhas, por sua vez, atuava na Universidade do Estado da Bahia no curso de Educação Física. O LC também se inseria na Executiva Nacional de Estudantes de Educação Física (ExNEEF) e na Direção Executiva Nacional dos Estudantes de Medicina (DENEM), bem como na Articulação Nacional (AN), criada em 2012, como espaço de troca de acúmulos teóricos e organizativos entre os coletivos Contra Corrente, Resistência Socialista, Lutar e Construir e Outros Outubros Virão.

Os espaços de organização estudantil nos quais o OOV se insere são: Movimento de área/executiva e seus instrumentos (regionais, encontros, FENEX), organizações por locais de estudo (OLE) e seus instrumentos (coletivos de base, grupos de estudo, CA/DAs), Articulação Nacional, comandos específicos para momentos de mobilização (blocos de luta por transporte público) e Movimento Geral. Nesse sentido, destacamos a atuação na ExNEEF, na DENEM e na Articulação Nacional, que possibilitaram a aproximação política entre os coletivos.

Os tópicos desenvolvidos a seguir expressam pontos centrais da concordância política entre os coletivos, seja na formulação teórica ou na prática política dirigida e avaliada por essa formulação, que por vezes é alterada pelas experiências práticas da militância.

Concepção de Movimento Estudantil

O Movimento Estudantil (ME) é policlassista, podendo se identificar com ambos os projetos possíveis nesta sociedade, e por si só não defende os interesses da classe trabalhadora nem tampouco é revolucionário. Essa concepção de ME tem como base a concepção de universidade. Esta que, apesar de surgir como um espaço da burguesia, para o seu acesso ao conhecimento e a cultura, tem se tornado, cada vez mais, um espaço composto pelo proletariado. Isso se deve às necessidades do capitalismo de formar força de trabalho qualificada, onde cabe expandir o acesso a uma universidade cada vez mais precarizada e de ensino fragmentado. Logo, a partir do momento que o ME toma pra si os interesses da classe proletária, pode levar grandes contribuições para a luta dos trabalhadores.

Concebemos, portanto, os estudantes enquanto trabalhadores em formação, que ao concluírem seus cursos, ingressarão no mundo do trabalho. Neste sentido, o ME é um importante espaço para avançar nas conquistas estudantis, desenvolver e formar militantes socialistas e contribuir com a luta dos trabalhadores, articulando as demandas e mobilizando sua base em torno das pautas que atacam diretamente a classe trabalhadora.

É importante frisar que, dentro do ME, não estaremos voltados somente para a pauta de Educação e Universidade, pois assim nos fecharíamos em nossas próprias questões. Também precisamos nos voltar para outras pautas que estejam relacionadas com o ME, como orçamento público, transporte, saúde, combate às opressões (gênero, LGBTfobia, racismo, etc.).

Sendo assim, entendemos que o ME tem como objetivo contribuir com a classe trabalhadora, relacionando as pautas dos trabalhadores em formação com a luta política mais geral entre as classes sociais, para a edificação de uma nova sociedade.

Análise do Ciclo PT¹

Não queremos e não podemos negar a história da luta de classes no Brasil, sobretudo recentemente. O Partido dos Trabalhadores (PT) foi fruto e protagonista do acirramento das contradições no último grande ciclo de lutas do país, sendo necessário portanto analisar as transformações no seu projeto e a atual configuração do partido, entendendo que essa questão está em movimento e trás elementos que devemos lutar para serem superados.

Apesar de seu forte caráter classista inicial, e levando-se em consideração os elementos contraditórios ao longo de todo o ciclo PT, percebe-se que houve uma gradativa migração da esfera de luta e organização concreta para a esfera da disputa institucional, concretizada na década de 90. Das lutas nas ruas, transferiram-se os embates para os acordos de gabinete e as disputas eleitorais com um fim em si mesmas.

O instrumento foi burocratizado e perdeu o projeto histórico socialista, deixando como herança um conjunto de práticas que a esquerda ainda não conseguiu eliminar completamente, a saber, o hegemonismo, o personalismo, o aparelhamento partidário, o dispêndio de energias militantes para a criação de maiorias artificiais em congressos para ganhar votações, entre outras.

O governo Lula foi um marco de expressão da mudança de posição de classe desses instrumentos, para o lado do empresariado. Se nos posicionamos claramente em defesa do projeto histórico da classe trabalhadora, nos situamos no lado oposto ao governo, nesse atual momento. Entendemos que o PT atrelou-se aos limites da institucionalidade burguesa, imerso na via eleitoral, aliado aos setores empresariais, com sucessivos recursos programáticos e, na prática política, abandona assim a referência ao socialismo e substitui pelos “direitos”, dentro da ordem capitalista.

Dentro desse contexto, o movimento estudantil também foi cooptado por uma prática de militância semelhante. Compreendemos que a União Nacional dos Estudantes (UNE) desempenhou um papel importante na história do movimento estudantil brasileiro. A entidade se reorganizou em 1979, no ensejo da reorganização de toda a esquerda brasileira e, desde esse período, vem trilhando um caminho semelhante ao da Central Única dos Trabalhadores e do PT. Entretanto, apesar de seu forte caráter classista inicial, esses instrumentos migraram da esfera de luta e organização concreta para a esfera da disputa institucional, acordos de gabinete e disputas eleitorais. Na história mais recente os exemplos maiores foram a defesa, por parte da UNE, das principais contrarreformas da educação superior, como o Pro-Uni e o REUNI, reflexos do financiamento do governo federal e da cooptação da entidade. A UNE, assim, não cumpre mais a função de instrumento de luta do movimento estudantil, e negar a sua burocratização e os rumos que tomou, é negar a entidade por completo.

Na tentativa de dar respostas ao movimento estudantil geral e buscando ser o contrário do que a UNE vinha sendo, cria-se a Assembleia Geral dos Estudantes Livre (ANEL)². Todavia, essa nova entidade foi construída em um congresso com pouca participação dos estudantes brasileiros e fora de um contexto de grandes mobilizações das bases estudantis – ou seja, a concretização da entidade não se realiza a partir de uma luta prática, diária e massiva, com amplo entendimento político, de estudantes que veem a necessidade de sua criação. Portanto, a ANEL não reflete as necessidades reais e concretas do ME e acaba por repetir alguns vícios do último ciclo de lutas.

Concepção de Estado

A sociedade capitalista, na qual vivemos, é caracterizada por possuir, cada vez mais, a divisão em duas classes distintas: os detentores dos meios de produção e os trabalhadores, que precisam vender a sua força de trabalho aos primeiros para garantirem condições mínimas de sobrevivência. Esta relação é marcada por uma contradição essencial: aqueles que realmente produzem os elementos essenciais à sobrevivência da humanidade têm esses elementos expropriados, destinados a uma minoria que deles usufrui. Isso gera interesses distintos e inconciliáveis, resultando inevitavelmente em atritos entre as duas classes.

Desta relação fundamental surge o Estado, instituição que na aparência serve para manter a justiça, a liberdade e a democracia, mantendo a neutralidade e conciliando os interesses de exploradores e explorados. Ora, se esses interesses são diretamente opostos e inconciliáveis, na essência, o Estado é fruto da luta de classes, e serve aos interesses de dominação, coerção e opressão da classe trabalhadora, ora de maneira assistencialista, ora de maneira repressora, mantendo a exploração da força de trabalho e a reprodução da atual forma de organização social.

“O Estado é o produto e a manifestação do antagonismo inconciliável de classes. O Estado aparece onde e na medida em que os antagonismos de classes não podem objetivamente ser conciliados. E, reciprocamente, a existência do Estado prova que as contradições de classe são inconciliáveis (LENIN, 2010)”.

A democracia, que na aparência se apresenta como um direito dos trabalhadores, se configura enquanto uma maneira de dominação da burguesia, uma forma de administrar os negócios. Neste sentido, o Estado democrático é a forma mais adequada de a burguesia garantir seus interesses e se perpetuar como exploradora do proletariado (os trabalhadores que vendem sua força de trabalho). Isso, porque devido a seu poder econômico, a burguesia garante no parlamento os representantes necessários para garantir seus interesses, ao mesmo tempo em que o sistema democrático permite que a população participe do processo, o que dá uma a sensação de plena participação política e neutralidade do Estado escondendo seu caráter de classe.

Portanto, consideramos que disputar o Estado no atual momento histórico, dado o seu caráter de defensor dos interesses burgueses, não se configura enquanto uma tarefa revolucionária da esquerda. Precisamos, enquanto esquerda, retomar o projeto revolucionário e inseri-lo na pauta do dia da classe trabalhadora, esta que, em sua maior parte, ainda reproduz a ideologia burguesa. Assim, nossa principal tarefa desse momento é o trabalho de base: devemos nos reinserir nos espaços de organização dos trabalhadores e dos estudantes e disputá-los para que tomem para si o projeto da classe proletária, além de nos empenhar na superação desse ciclo de lutas e de seus vícios.

Atuação política em âmbito nacional

Olhando para o cenário político brasileiro, sentimos a necessidade da reorganização da esquerda, por entender o processo de fragmentação e os vícios da atual militância, fruto do projeto democrático e popular. O processo de fusão que aqui tornamos público não é fácil, nem tampouco deve ser superficial, mas partiu de uma concordância política e uma atuação conjunta de longa data. Ressaltamos que isso não é comum no atual momento histórico, no qual as fragmentações da esquerda são mais frequentes. Não julgamos esse processo como uma questão moralista, e entendemos que os balanços e avaliações são necessários, e as rupturas acontecem.

Nos propomos a tornar o movimento estudantil combativo e aliado aos interesses da classe trabalhadora, potencializando a atuação através da inserção nos locais de estudo. Apesar de a inserção em um determinado local (cidade e/ou universidade) ser decisiva para a atuação junto aos trabalhadores em formação, a realidade local possui elementos específicos e limitados em relação à conjuntura nacional, trazendo alguns entraves. A atuação a nível nacional viria no sentido de ampliar a nossa leitura/intervenção junto ao conjunto do movimento estudantil, pela presença de pessoas de diferentes locais, que partilham da mesma política e com elementos de atuação distintos. Um coletivo nacional também proporciona uma articulação política necessária para a atuação em Executivas de curso, blocos de luta, comandos de greve, dentre outros, permitindo o compartilhamento de experiências político-organizativas e ampliando a capacidade de intervenção, de forma mais ordenada.

Além disso, um coletivo nacional amplia o debate das questões fundamentais para a esquerda classista e combativa no ME, contribuindo com a formação dos quadros do coletivo e aumentando a capacidade de formulação, ao promover sínteses mais sólidas que guiam e são guiadas pela nossa atuação.

Questão do nome/política

A fusão dos estudantes do coletivo Lutar e Construir com o Outros Outubros Virão se deu por conta dos princípios políticos comuns aos coletivos, da atuação conjunta em algumas frentes (Articulação Nacional, DENEM e ExNEEF) e da confiança política mútua ao longo do processo.

A decisão de manter o nome Outros Outubros Virão para o coletivo surgiu por ter maior consolidação e inserção a nível nacional, mesmo feito o debate sobre o nome, entendemos não ser uma questão central que impediria a possível fusão, quando se leva em consideração o projeto político da classe trabalhadora, a coerência política e a atuação que o coletivo em questão apresenta.

Avaliamos que em ambos os coletivos tínhamos elementos teórico-práticos em perspectiva a esse projeto, assim como uma concepção de ME classista, combativo e ligado aos interesses dos trabalhadores em formação.

Como dito anteriormente, o LC era composto por estudantes e trabalhadores, mas, com o processo de fusão entre os dois coletivos, os trabalhadores do LC – por apresentarem limites quanto a atuação no movimento estudantil – não farão parte do OOV, mas iniciarão a tarefa de construir a Intersindical (Instrumento de Luta e Organização da classe trabalhadora) no estado da Bahia, mantendo o nome Lutar e Construir para este novo coletivo – dos trabalhadores.

Relação com a Intersindical – Instrumento de Luta e Organização da Classe Trabalhadora³

A Intersindical é uma Organização Sindical nacional, presente em todas as regiões do Brasil, que coerente com o processo histórico das Organizações que dela fazem parte, tem contribuído decisivamente no processo de reorganização do movimento sindical brasileiro, “tendo como princípios fundamentais: a independência em relação ao Capital e seu Estado, autonomia em relação aos partidos políticos, e tendo a organização pela base com um instrumento fundamental para a luta de classes”, além da formação política como ferramenta potencializadora.

Acreditamos ser esse um instrumento que fortalece as lutas da classe trabalhadora, por romper com a lógica de militância da CUT, se desvinculando do Estado e voltando sua atuação para a base sindical, imprimindo um enfrentamento direto aos interesses do capital. Por isso, os trabalhadores que integram o Lutar e Construir decidiram compor esse instrumento.

Dessa forma, ressaltamos que a fusão não altera a política do coletivo, seja na atuação prática ou na formulação teórica, por conta da concordância política já expressa. Entendemos que a atual conjuntura, de fragmentação da esquerda e da prática de militância resultante do último ciclo de lutas, coloca a tarefa de construir o Movimento Estudantil classista, combativo e atrelado ao projeto político da classe trabalhadora, partindo da inserção nos locais de estudo e da construção das pautas em conjunto com os estudantes.


1Período de lutas compreendido entre o final da década de 1970, com a derrocada da ditadura militar, quando as reivindicações dos trabalhadores eram pautadas em greves e manifestações de rua, e a ascensão do referido partido ao governo, que está em curso

2 Para melhor compreensão de nossa posição em relação a ANEL, ler o texto: Entre o Atraso e a Precocidade, Entre o Velho e o Novo: Nem UNE nem Nova Entidade

3 http://www.intersindical.org.br/

quarta-feira, 25 de março de 2015

Enquanto uma nova crise está em gestação, o Estado se coloca em movimento para atender aos interesses do Capital

As saídas da crise de 2008/2009 aumentou de maneira avassaladora a dívida dos Estados nacionais: empréstimos, incentivos fiscais, “estatização” de empresas privadas pelos governos, como foi no EUA em relação a General Motors, são exemplos das ações anticíclicas aplicadas pelo Estado para garantir ao Capital uma nova fase de recuperação e aumento de seus lucros.

O coração do sistema imperialista impôs aos Estados nacionais da Europa a fatura dessa conta. E nessa espiral, a grande economia da Europa, a Alemanha, impôs às economias dominadas da zona do euro a fatura, o que significa ataque a direitos trabalhistas e previdenciários, corte nos gastos das politicas públicas, o que significa mais arrocho nos salários, mais desemprego, aumento da miséria.

A indignação contra os pacotes de austeridade colocou no governo na Grécia o Syriza, que logo após tomar posse se comportou como disciplinado governo da ordem, ou seja, apenas pequenas modificações na forma de como acatar as imposições da Troika e do FMI. No mais a garantia de subserviência à política da zona do Euro. Logo após a posse o anuncio da concertação com o bloco europeu, manifestações de rua ocuparam as ruas da Grécia contra o acordo do novo governo que foram ao mesmo tempo ignoradas e reprimidas.

Na Ásia, a China estima crescimento de 7%, muito abaixo do que cresceu nos últimos anos, ainda muita acima em relação a todos os outro países do BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China). A fábrica de montagem do mundo e grande importadora de minério de ferro, mostra o quanto é subordinada a economia dominante do sistema.

Enquanto isso, no coração do sistema, nos EUA a recuperação iniciada já em 2010 apresenta números que mostram que o Capital conseguiu se recuperar à custas de arrocho nos salários e aumento da produtividade, ou seja, maior exploração ao conjunto dos trabalhadores americanos.

De janeiro de 2013 a janeiro de 2014 a produtividade do trabalho aumentou em 0,8% e de janeiro de 2014 a janeiro de 2015 subiu 2,05%. O que significa não só o investimento em capital fixo que subiu de janeiro de 2013 a janeiro de 2014 em 4, 7% e de janeiro de 2014 a janeiro de 2015 em 9,7% , mas também a combinação do aumento da intensidade do trabalho e arrocho nos salários.

A concentração da riqueza e o consumo de bens de luxo aumentaram nos últimos dois anos nos EUA e junto a isso o aumento da miséria, dos novos moradores de rua, do aumento da repressão as manifestações, que mais do que colocar a vista a ferida aberta do preconceito étnico, mostra a política de segregação à serviço de comprimir o preço da força de trabalho também no coração do sistema.

No Brasil, o governo do PT ataca os trabalhadores e a burguesia vai as ruas exigir mais.

No Brasil o governo inicia o mandato anunciando um pacote que chama de ajuste fiscal onde quem é diretamente atacado são os trabalhadores, restrição e mudanças no seguro-desemprego, abono salarial (PIS/PASEP), auxílio-doença e pensões.

As mudanças garantem para o Capital a manutenção do aumento da rotatividade, para achatar ainda mais os salários. E a suspensão das isenções fiscais e a diminuição da desoneração da folha de pagamento só revelam como as empresas se utilizaram dessa concessão do governo: mantiveram apenas o nível de emprego e agora tentarão demitir em massa para diminuir ainda mais o preço da força de trabalho.

Demissões pelo pacote do governo que suspende as isenções fiscais, demissões através da chantagem das empreiteiras envolvidas no caso mais recente de corrupção na Petrobrás, demissões pelas obras canceladas pelo governo em nome do “ajuste fiscal”, assim o Capital vai para uma nova fase de ataques aos direitos. No serviço público os governos dos estados colocam em movimento o que já é o anuncio do que será feito também pelo governo federal: cortes em direitos e salários dos servidores públicos, como o que tentou fazer Beto Richa do PSDB no Paraná, que recuou após a intensa luta do funcionalismo e com os professores da rede estadual em greve que passaram por cima de sua direção sindical pelega. Nas universidades federais falta até papel higiênico, trabalhadores na limpeza sem receber salário provocados pelo atraso no repasse federal.

A economia real dá passos lentos em alguns setores, mas não em sua totalidade. A produção de bens de Capital teve aumento de 9,1%, ao mesmo tempo em que no setor automobilístico as montadoras se aproveitam do recuo na economia para impor mais flexibilização na jornada de trabalho e redução de direitos nas Convenções Coletivas de Trabalho.

Enquanto o governo tenta impor como necessidade ímpar atacar direitos trabalhistas e previdenciários, que totalizam uma “economia” de não mais que R$ 18 bilhões, não fala dos mais de R$200 bilhões em concessões fiscais ao grande Capital. Também nenhuma palavra de combate aos grandes sonegadores, que não estão nos camelódromos. Segundo dados dos próprios órgãos de Estado, nesse caso dados levantados a partir de número publicados pelo Banco Mundial, o Brasil só perde em sonegação para Rússia. O rombo nas contas públicas, ou seja, impostos, tributos que deveriam ser pagos principalmente pelas grandes empresas são de aproximadamente R$ 680 bilhões, valor que significa sete vezes o orçamento para a saúde.

Assim começou o ano de 2015 para os trabalhadores: pacote do governo que atinge direitos, demissões, aumento das tarifas de energia e água, racionamento e falta de água principalmente na região sudeste do país, e em grande medida por conta da falta de investimento dos governos que provocou uma das maiores crises hídricas do país e, aumento do custo dos alimentos básicos.

No dia 13 de março as centrais sindicais e movimentos sociais submissos ao governo, saem às ruas para defender Dilma, não para enfrentar as medidas desse governo que atacam os trabalhadores.

No dia 13 de março centrais sindicais, como CUT, Nova Central e CTB, foram as ruas para defender o governo e só depois se colocar contra as Medidas Provisórias que atacam direitos dos trabalhadores. Outras centrais sindicais, como Força Sindical, UGT não foram para o dia 13 para participar dos atos chamados para o dia 15.

As manifestações do dia 13 mostram que essas organizações se colocaram em movimento não em defesa dos interesses dos trabalhadores, mas principalmente em defesa do governo. O governo federal pediu para que as manifestações não fossem contra o governo e de pronto essas centrais e movimentos se submeteram.

São essas mesmas organizações e movimentos incluindo aí também a Força Sindical e a UGT, que no final de 2014 entregaram ao governo federal proposta de projeto de lei que permitiria ao governo definir os momentos de crise da economia e mediar negociações entre o Capital e a representação dos trabalhadores, onde salários poderiam ser reduzidos em até 30%.

Nas ruas estavam as representações dessas organizações. Não conseguiram colocar os trabalhadores nesse movimento que claramente optou por defender o governo ao invés de defender os direitos da classe trabalhadora.

No dia 15 de março no Brasil, a burguesia sai às ruas, para defender um governo que de fato possa chamar de seu. Em nenhuma das manifestações do domingo, apareceu a luta contra as Medidas Provisórias que atacam direitos dos trabalhadores.

As manifestações chamadas para o dia 15 de março, um domingo, dia em que na maioria dos ramos de produção, o Capital não foi afetado, reuniu segundo a Polícia Militar que dessa vez ao contrário do que sempre faz, não derrubou o número das manifestações, fez questão de inflá-los em algumas regiões, reuniu em todo Brasil perto de 1 milhão de pessoas. Mas independente dos números divulgados pelo braço armado do Estado, o que é importante responder é quem está à frente dessa manifestação que reuniu milhares de pessoas.

Em todas as manifestações realizadas nesse domingo, em nenhuma delas se via qualquer menção, faixa, cartaz, bandeira contra as medidas do governo Dilma que atacam direitos da classe trabalhadora como o seguro-desemprego, abono salarial, auxílio-doença, pensão, aposentadoria. O que se via era o ódio de classe da burguesia se colocando em movimento aproveitando-se da indignação que se espalha pelo país, ao ver que quanto mais se escancara a corrupção na máquina do Estado, aumenta o aperto nas políticas públicas e no ataque aos direitos dos trabalhadores.

Na maioria dos estados, a burguesia e sua fração indignada, a pequena burguesia, desfilou pelas principais avenidas do país e conseguiu levar para as manifestações parte de nossa classe, que se coloca em movimento contra as medidas do governo que aumentam o custo de vida e atacam seus direitos, direitos que essa mesma burguesia que foi pra rua tem interesse em eliminar.

A burguesia se colocou em movimento para além de sua representação no Estado: O governo do PT que nos últimos 12 anos seguiu garantindo as demandas do Capital e ao fazer isso pensou já estar aceito no "petit comité" da burguesia, agora se vê acuado por essa mesma burguesia, que concorda com o pacote de ajuste fiscal no que diz respeito ao ataque aos direitos dos trabalhadores, mas que exige mais ações do Estado que garanta a preservação e ampliação de sua propriedade privada, o aumento da exploração contra a classe trabalhadora.

Nas manifestações do dia 15 organizadas para além das redes sociais, estavam os representantes da burguesia que embora digam que não aceitam, permitiram que sua expressão de direita mais reacionária se manifestasse defendendo um novo golpe militar. Enquanto desfilam defendendo a ditadura, a Polícia Militar posava para as fotos com os manifestantes. Os mesmos que reprimem as manifestações dos trabalhadores nas fábricas, bancos, comércio, os mesmos que reprimem a população trabalhadora, os estudantes, nas ruas, escolas, periferias.

Os órgãos de propaganda e repressão do Estado nos diversos estados, os grandes meios de comunicação tentam universalizar sua forma de ver a realidade, ou seja, tentam dizer que o que aconteceu tanto no dia 13, a defesa do governo, como no dia 15 a manifestação contra o governo como a definição da polarização do país.

A realidade mostra que a burguesia exige mais desse governo que tantas provas deu de subserviência ao Capital, a indignação dos trabalhadores se diluí nessas manifestações que claramente não defendem os direitos de nossa classe, a maioria das centrais sindicais segue no desserviço de se submeter ao governo e conciliar com o Capital em tempos de crise ou não.

A nós cabe a tarefa de enfrentar os ataques do governo Dilma e do Capital sejam os ataques que se mostram no pacote de “ajuste fiscal”, seja nos locais de trabalho enfrentando as demissões, as tentativas de redução de direitos e salários. Também é tarefa enfrentar a expressão da burguesia em movimento nas ruas que colocará seu ódio de classes em movimento escancarado. Na expressão do “anti-petismo” que mais do que ser a crítica a esse governo que tanto lhe serviu, tem em seu conteúdo colocar pra fora seu ódio de classe contra um partido que já não existe mais, aquele nascido da lua da classe trabalhadora.

Atenção, rigor na análise e na organização de cada mobilização, acumular força para enfrentar não só o pacote, mas esse novo período onde o Capital em suas diversas expressões intensificará o ataque a nossa classe.

É a fase onde em todos os lugares poderá ser visto com clareza que nossos princípios não são efeitos retóricos, nossa ação independente em relação aos patrões e governos, a luta é de enfrentamento contra o Capital e seu Estado que se movimenta nos mais diversos governos sejam eles do PT, PSDB, PMDB, DEM e outros para defender os interesses da burguesia. É o momento de lutas de resistência que fincadas em cada local de trabalho, estudo e moradia, potencializarão a necessidade do salto de qualidade organizativo para avançar na luta que enfrente a totalidade dessa sociedade de exploração.