terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Carta de Dezembro: Indícios de precarização: a necessidade de resistência por dentro da universidade.


Durante todo o ano de 2013 presenciamos várias problemáticas específicas nos cursos da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Temos visto mobilizações estudantis acontecerem nos diversos cursos reivindicando melhoras das condições de estudos, sejam questões infraestruturais, pedagógicas ou administrativas. Por parte dos técnicos administrativos, essas problemáticas também foram encontradas, se expressando nas diversas paralisações realizadas. No movimento docente evidenciamos uma árdua negociação entre professores e Governo do Estado da Bahia no que diz respeito a revisão da Lei Orçamentária Anual e a Receita Líquida de Impostos (RLI). Neste sentido, percebemos a intransigência do Estado em relação às pautas elencadas pelo Movimento Estudantil, Movimento dos Técnicos Administrativos e dos Docentes, pautas estas que são legítimas e necessárias para a manutenção e desenvolvimento da Universidade.
No Movimento Estudantil, comprovamos ao longo do ano algumas paralisações, mobilizações e greves nos cursos. Diante disso, podemos citar: as sucessivas mobilizações, culminando em uma greve de quase um mês, no curso de História tendo como pauta central o acesso aos textos acadêmicos, construção dos módulos das disciplinas e o déficit no acervo da Biblioteca Julieta Carteado, que tem sua expressão maior na falta de permanência estudantil. No curso de Odontologia, presenciamos no final de 2012 e início de 2013 uma greve que teve como pauta central a aquisição dos materiais indispensáveis para o desenvolvimento das aulas teórico-práticas, bem como, a construção da nova clínica odontológica da UEFS. Outro exemplo que podemos explicitar é a falta de condições infraestruturais, de materiais e de professores que, por diversas vezes, inviabilizam a execução das aulas de maneira adequada no curso de Educação Física, fatores estes, que induziram a continuação da campanha “Movimente-se já! Isso sim é Educação Física”.
Podemos observar essas reclamações, em maior ou em menor grau, em todos os cursos da UEFS, aqui, apontaremos as pautas elencadas pelos estudantes dos cinco novos cursos (Agronomia; Psicologia; Filosofia; Química; Música) implementados na Universidade, são estas: falta de espaço físico, como salas de aula, laboratórios, espaços para vivência de campo, salas para criação dos diretórios acadêmicos dos cursos; falta de professores para atender as demandas necessárias de ensino, pesquisa e extensão; falta de materiais para execução didático-pedagógicos – acervo de livros na biblioteca, materiais de laboratório, etc.
Diante disto, o que essas mobilizações, greves e paralisações têm em comum?
Na tentativa de articular as diversas pautas e reivindicações, o Movimento Estudantil conseguiu encampar um ato unificado com diversos cursos da UEFS para canalizar as pautas e aumentar a força das exigências que, inicialmente, eram tidas como isoladas e específicas de cada curso. Assim, foram organizados Conselhos de Entidades de Base (CEB) para construção desse ato unificado, que resultou no fechamento do pórtico e entrega de um documento à Administração Central com as reivindicações que visavam melhorias nas condições de assistência e permanência estudantil.
Percebemos também, que a precarização do trabalho atinge aos servidores técnico-administrativos das Universidades Estaduais Baianas, que, mesmo em meio a tantas assembleias, mobilizações e paralisações, não tiveram ainda regulamentado o seu plano de cargos, salários e carreira. Além disso, ressaltamos que a cada ano diminuem as possibilidades de contratação de pessoal efetivo através de concursos, causando um déficit do número de técnicos-administrativos que a Instituição necessita para funcionar de maneira adequada, assim, vimos que, a opção adotada pelo Governo do Estado da Bahia é de preenchimento das vagas via forma de terceirização do trabalho. Como se não bastasse a contratação precarizada dos trabalhadores, que têm seus direitos trabalhistas usurpados, o Governo do Estado não vem repassado em dias os salários dos terceirizados.
No Movimento Docente, não é diferente. O que temos visto é um total desrespeito a categoria dos professores, que vêm, historicamente, lutando por melhores condições de trabalho, o que envolve consequentemente, melhores condições para o desenvolvimento do ensino, da pesquisa e da extensão dentro das Universidades. As baixas receitas disponibilizadas (menos de 5% da RLI) para as Universidades Estaduais Baianas têm elevado a precarização nas condições de trabalho dos professores, como por exemplo, morosidade nos processos de promoção e progressão de carreira, bem como, a falta crônica de professores em diversos cursos e infraestrutura precarizada, o que atinge, como podemos perceber, além dos professores, técnicos-administrativos e estudantes.
Os problemas que afetam as três categorias da universidade são potencializados quando, concomitantemente com corte orçamentário para o próximo ano e a baixa RLI (menos de 5% para todas as UEBA), percebe-se o afrouxamento do controle do dinheiro público no que tange ao investimento para a Copa de 2014, deixando mais evidente o descaso com a classe trabalhadora, nesse caso, com os investimentos para educação. Nessa perspectiva da transferência de verbas dos setores públicos para a iniciativa privada, que arranca direitos da classe trabalhadora na medida em que tem verbas para grandes empresas e diz não ter para educação, saúde, moradia, etc., temos acompanhado o Decreto 14.710, que tem como objetivo estabelecer medidas de contenção das despesas e controle dos gastos de pessoal e de custeio, o que inviabilizará novas contratações, bem como progressões e promoções de carreiras, como também, prevê a suspenção das concessões de afastamentos de servidores públicos para realização de cursos de aperfeiçoamento, etc.
Diante deste quadro que a conjuntura nos apresenta é que convocamos todos os estudantes a comporem esta frente de luta em defesa da Universidade que busca ser pública, gratuita, socialmente referenciada pelos trabalhadores e de qualidade, participando do DIA ESTADUAL DE LUTA que ocorrerá dia 11 de dezembro com uma Aula Pública e Audiência Pública em frente à Assembleia Legislativa da Bahia em Salvador, conscientes de que essa é apenas uma das ações que devemos realizar e que a LUTA não se finda neste dia.

Por mais verbas para as Universidades Estaduais Baianas!
Por 7% da RLI paras as UEBA!



Coletivo Lutar e Construir
Feira de Santana – BA
Dezembro de 2013