sábado, 31 de maio de 2014

Carta do Coletivo Lutar e Construir ao coletivo de estudantes que compõem o Movimento Estudantil de Educação Física.


Viemos, por meio desta carta, apresentar a todxs xs companheirxs que militam conosco no movimento estudantil de Educação Física e/ou no movimento estudantil geral o resultado de um processo de luta comum que culminou na união de dois grupos de estudantes que agora, juntos, caminham ombro a ombro na luta “por um mundo onde sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres”. Apresentamos, inicialmente, o que é o Coletivo Lutar e Construir e como este se organiza nos locais de estudo, trabalho e moradia. Em seguida, a concepção de Movimento Estudantil que orienta a nossa atuação e a concepção de Organização Política que sustenta a nossa luta e, por fim, falamos da aproximação dos dois grupos de estudantes em questão e das perspectivas que temos para este ciclo.
O Coletivo Lutar e Construir é um grupo político que se organiza no interior da Bahia, e é composto por estudantes e trabalhadores. Inicialmente, o coletivo era composto tão somente por estudantes de Educação Física e atuava via Diretório Acadêmico de Educação Física na Universidade Estadual de Feira de Santana e na Executiva Nacional dos Estudantes de Educação Física. Diante da necessidade de expandir a luta para pautas mais gerais, o coletivo cresce com a entrada de estudantes de História e Medicina e com a atuação, também, no Diretório Central de Estudantes da UEFS e na Articulação Nacional - com coletivos do Brasil. Precisamos, ainda, esclarecer a questão de termos trabalhadores em um coletivo que inicialmente reivindicava-se enquanto um coletivo de ME. Com a graduação de alguns de nossos militantes mais antigos e com a falta de grupos políticos aos quais convergíssemos com a política na região Nordeste/Bahia, houve a necessidade de manter esses militantes organizados via Lutar e Construir, para, ao menos, continuarem pautando a formação política e a atuação organizada.
             Neste sentido, apesar de não ser formado apenas por estudantes, o coletivo Lutar e Construir tem no Movimento Estudantil de Educação Física o seu principal campo de atuação, logo, o entendimento e as ações políticas perante o MEEF sempre se aproximaram do que nós, enquanto Diretório Acadêmico de Educação Física da UNEB-Alagoinhas, entendemos como a melhor análise do cenário político e conjuntural que temos atualmente, entre elas o não reconhecimento de entidades que não conseguem dar respostas aos estudantes - tendo como sua maior representação a UNE - e a necessidade de reorganização do movimento estudantil pela base.
O movimento Estudantil por si só não é revolucionário, traz consigo várias características que não o colocam como protagonista do processo, porém, entendemos que os estudantes, enquanto classe trabalhadora em formação, necessitam incorporar a luta dos trabalhadores, além de poderem dar grandes contribuições para a atuação revolucionária do proletariado.
Em tempos de fragmentação da luta e de afastamento cada vez maior da base dos movimentos, é importante que haja organização por local de estudo, trabalho e moradia. Primeiro por que somos poucos militantes e as demandas da militância são inúmeras e muito árduas, o que impossibilita nossa participação em todos os espaços que consideramos importante. Segundo, atuando em poucos espaços as demandas já são muitas, se formos atuar em todo local que encontrarmos vamos ser consumidos pelas demandas, levando-nos a desenvolver apenas atividades “práticas”, reproduzindo o vício praticista, pois não teremos tempo para o desenvolvimento de atividades práticas de estudo que são fundamentais para uma práxis militante qualitativa. E em terceiro, que nossos locais de estudo, trabalho e moradia são espaços do nosso cotidiano, onde temos contato diretamente com estudantes, trabalhadores e estes que são a base do movimento. Essa concepção não anula que por convergência política dois grupos de estudantes unifiquem sua luta dentro de uma mesma organização, atuando dentro de uma mesma lógica militante. Mesmo que geograficamente distantes, se temos a possibilidade de fazer uma mesma luta com camaradas valorosos, então lutemos!
Portanto, pelo compromisso que temos com o MEEF e os estudantes que compõem este movimento, e por entendermos que o Coletivo Lutar e Construir tem uma expressiva inserção no conjunto do MEEF, avaliamos ser importante apresentar o processo que resultou na fundação de um núcleo do Coletivo Lutar e Construir.
O curso de Educação Física da Uneb - Alagoinhas é um curso recente e a organização dos estudantes, enquanto Diretório Acadêmico, também. Como “toda” luta, nasce das necessidades imediatas e, não tão diferente de outras realidades, lutava apenas por melhores condições estruturais da Universidade. Com a inserção no MEEF outros olhares orientam as lutas do D.A., mas, ainda assim, de forma bem tímida. Apenas quando em contato mais direto com militantes do Coletivo Lutar e Construir (UEFS), e nos aproximando da Executiva Nacional dos Estudantes de Educação Física (ExNEEF), é que passamos a entender que a Educação Física não está descolada do mundo, dentro de uma bolha. A partir daí, sentimos a necessidade de estudar e de nos apropriar da teoria que melhor explica a realidade, que a julga a partir de um posicionamento (de classe) e que propõe a mudança – a superação da sociedade de classes. É claro que entendemos os limites do Movimento Estudantil, e é sabido que este por si só não defende a classe trabalhadora e tampouco é revolucionário, mas também reconhecemos a importância deste na formação de quadros que atuarão junto à classe trabalhadora e mais tarde enquanto classe trabalhadora, de fato. Por isso mesmo, nos aproximamos (Uneb-Alagoinhas) do Coletivo no sentido de pensar estratégias de organização dos estudantes para além do Diretório Acadêmico. Inicialmente sem saber ao certo se teríamos um Núcleo do L.C. ou um outro Coletivo e, a partir de reuniões de estudos, estudos que orientam os princípios do Coletivo, chegamos à conclusão de que, para este momento, seria melhor a criação de um núcleo, e no dia dez, deste mês de maio, foi fundado o Núcleo do Coletivo Lutar e Construir – Alagoinhas - BA.
Sendo assim, entendemos que a organização enquanto coletivo é importante para um salto qualitativo na consciência dos estudantes/trabalhadores, logo, a criação do núcleo do Lutar e Construir é um avanço tanto para os seus integrantes no processo de reorganização, quanto na contribuição da luta pela defesa das bandeiras tocadas pelo MEEF. Nossa tarefa agora é intensificar a luta e sabemos que não será fácil, mas será para vencer!

Coletivo Lutar e Construir
31 de maio de 2014
Alagoinhas-Ba

domingo, 18 de maio de 2014

O VOTO É NULO, A LUTA É COM A BASE E PELA QUESTÃO ORÇAMENTÁRIA!





O VOTO É NULO, A LUTA É COM A BASE E PELA QUESTÃO ORÇAMENTÁRIA!


“A carne nova é comida com os velhos garfos[...]
Das novas antenas vieram as velhas bobagens.”
(Bertolt Brecht, As Novas Eras)

Uma roupagem aparentemente nova, nada mais que aparência, vestido em sua essência com as velhas práticas que há tempos recheiam o cotidiano do movimento estudantil da UEFS. Assim se apresentam as chapas que atualmente disputam as eleições para o Diretório Central dos Estudantes (DCE)/UEFS, gestão 2014–2015.
De dois anos para cá a sedenta senhora, Chapa 1- “Sempre em frente, não temos tempo a perder” do movimento Levante e Lute, saboreia a última gestão ao ponto de se empanturrar e não ter forças para se levantar e lutar por elementos concretos que realmente atendam às verdadeiras necessidades dos estudantes; sempre munida com os velhos garfos. Do outro lado, a Chapa 2 “O novo sempre vem”, tentando convencer com a roupagem do “novo”, mas o seu conteúdo nada mais é que uma “antena” receptora e difusora dos velhos vícios.
Para nós, é importante apontar que a política e as atitudes tocadas por ambas não são fruto apenas da subjetividade e da vontade dos grupos que integram as duas chapas, mas que suas formas de atuação são expressões da maneira de militar que está enraizada hoje em boa parte das organizações que se reivindicam enquanto esquerda. Referimo-nos à herança democrática e popular que tem o Partido dos Trabalhadores (PT) como sua maior expressão no Brasil.
Não é um elemento vago do texto o fato de termos apontado a semelhança entre as duas chapas desde o início desta nota. Se formos a fundo, veremos as ligações históricas com o PT e sua política. De um lado, o “Levante e Lute”, fortemente influenciado pela política do Partido Comunista Revolucionário (PCR), este que periodicamente utiliza a legenda do PT para disputar cargos no Estado burguês e receber apoio declarado, nas redes sociais e em seus eventos, de políticos da base governista. Em uma situação não muito diferente, “O novo sempre vem”, composto por diversos militantes do Levante Popular da Juventude/Consulta Popular, é também um veemente leitor da cartilha reformista e amoldada à ordem. Como se não bastasse todos esses elementos em comum, ainda defendem a disputa da União Nacional dos Estudantes (UNE), que se configura como uma entidade burocratizada, totalmente cooptada e que tem atacado à classe trabalhadora/categoria estudantil. Como exemplo,  a defesa do voluntariado na copa, diante do ‘rio de dinheiro’ que a FIFA e o empresariado internacional vem adquirindo.
Vale ressaltar que não negamos a importância e a necessidade do partido político para a organização dos trabalhadores e estudantes em luta, contudo, o movimento estudantil deve ser autônomo perante os partidos. Sobretudo, quando este – PT – é o impulsionador dos lucros dos grandes empresários nos últimos 12 anos, além de dar migalhas aos trabalhadores e ter cooptado diversos instrumentos de lutas.
Após leitura cautelosa e criteriosa dos materiais de campanha das duas chapas, é fácil perceber que ao elencarem pautas diversas, as chapas que pleiteiam o DCE não conseguem encontrar a centralidade que nos daria unidade nesse terrível momento vivido pelas Universidades do Estado da Bahia (UEBA). Seja de forma consciente ou inconsciente, o caráter governista delas, não as deixam enxergar (a “blindagem” ao governo do estado é mera coincidência?) que diversos problemas desta instituição estão intrinsecamente ligados às perversas políticas de precarização adotadas pelo Governo do Estado Burgo-Petista.
Ou seja, não é apenas o fato de, dentro dos gabinetes, “cobrar ao Secretário de Educação do Estado o compromisso com a educação pública” que irá resolver os problemas que nos afetam. O movimento estudantil não é para isso! É preciso não só ir aos gabinetes em momentos de negociação, mas, principalmente, é necessário mobilizar a base estudantil para pressionar reitorias e governos na defesa de nossos direitos, inclusive nos momentos de negociação, pois, somos mais fortes quando estamos organizados e mobilizados massivamente.
              Defendemos a concepção de que o Movimento estudantil deve ter independência de governos e reitorias, autonomia perante aos partidos, se articulação com a luta dos trabalhadores e entidades classistas. Parece-nos que o atual momento em que avistamos um colapso financeiro nas Universidades Estaduais da Bahia, o elemento mais geral e aglutinador, não só de nossa categoria, mas de todas que compõem as UEBA e sofrem com os efeitos desse arrocho, é a pauta do orçamento, que, consequentemente, se alinha com as pautas específicas.
Ressaltamos, por fim, que não é princípio a não disputa do DCE, ou seja, não negamos a importância real desta entidade e nem a possibilidade de disputarmo-la em algum momento histórico. Entretanto, a análise da realidade atual e concreta nos desvia do erro de compor uma campanha que terá fim nela mesmo e nos coloca na obrigação da crítica às chapas que se apresentam enquanto possibilidades. Apontamos assim, que outros meios de organização como CEB’s, frentes de luta, DA’s e/ou mobilizações por demandas especificas dos cursos, bem como, espaços amplos de debate, podem e devem ser fortalecidos.  Por isso saudamos os grupos e sujeitos que escolheram outros caminhos e espaços de diálogo com a base estudantil.
Entendemos que a arma da crítica não deve estar apontada apenas para os outros, mas também para nós. Porém, não defendemos a unidade a qualquer custo, de forma superficial e com rebaixamento das pautas. É necessário criar espaços para o debate franco e fraterno no seio do Movimento Estudantil, apontando nossas divergências, identificando os caminhos a trilhar e nossos inimigos de classe, e estes não estão no Movimento Estudantil. Em síntese, explicitamos que - frente às duas chapas de base petista - a nossa posição para estas eleições do DCE / UEFS, gestão 2014 – 2015 é: o voto é nulo, a luta é com a base e pela questão orçamentária!


Coletivo Lutar e Construir
Feira de Santana – BA
18 de maio de 2014

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Retomando a polêmica do trote: a violência que pode gerar mais violência


Passada a controvertida polêmica do trote no curso de Engenharia Civil, que foi assunto por dias nas redes sociais, temos a proposta de nesse texto retomar tal polêmica, não de forma confusa e sincrética como foram alguns debates em torno do ocorrido, mas agora procuramos aprofundar na análise desse fenômeno a fim de apontar um posicionamento sintético sobre a prática dos trotes. Portanto, não pretendemos entrar no dilema da espontaneidade ou coação do calouro ao beber ou da repercussão que isso tomou nos jornais da cidade, mas sim de apresentar um debate mais de fundo a respeito dos trotes, expondo a função que os mesmos cumprem na universidade.
Os primeiros registros de trotes datam de mais de 600 anos, ainda na Idade Média, em países da Europa, e posteriormente foram importados para o Brasil com a vinda da família real e criação das primeiras faculdades, no século XIX, sob forte influência da universidade de Coimbra. Desde o termo “trote” tal prática já se inicia com um cunho pejorativo. O “trote”, refere-se à marcha dos cavalos que aludindo para o meio universitário, significa que os veteranos teriam que “domesticar” os calouros, ensinando-os a marcha de maneira correta. Já a prática de cortar os cabelos também é oriunda desse período, mas tinha a finalidade higiênica, os calouros raspavam a cabeça enquanto medida profilática contra a propagação de doenças. Assim, embora o ser humano tenha avançado em termos civilizatórios em relação ao ser da Idade Média, ainda convivemos com práticas medievais em pleno século XXI.
O medievalismo atual, que teve sua expressão na engenharia civil, mas que outrora já se expressou em outros cursos, teve repercussão na mesma semana em que o DCE e vários estudantes puxavam um ato contra a violência no Feira VI (e que foi sucedida por uma greve da PM). Para além de alguns quererem sanar a violência com mais violência, ou seja, com a presença de um maior quantitativo de policiais (braço repressor do Estado) no bairro, sem irem na raiz do problema da violência, muitos outros que clamavam contra a violência se posicionavam a favor dos atos violentos em trotes (incluindo-se nos atos violentos a violência física ou a violência moral).
Tal contradição ocorrida na mesma semana nos mostra que a “Civil” não é “barril”. “Barril” mesmo é ficarmos acuados em nossas casas em meio a violência gerada por uma sociedade completamente desigual. “Barril” mesmo é a situação de diversos trabalhadores que construíram com suas mãos essa universidade e que talvez nem vejam seus filhos e netos acessarem ao conhecimento por ela produzido. “Barril” mesmo é ver os filhos da classe trabalhadora passarem pelo perverso processo seletivo (e depois lutarem para permanecerem na universidade) que só contempla 9% dos jovens de 17 a 24 anos (incluindo os que tem acesso as instituições privadas), e que deveria ser amplamente comemorado e acolhedor ao invés de um tratamento para verdadeiros bichos.
Mesmo que tenham um fim integrativo, tais trotes sadomasoquistas, violentos e humilhantes não têm qualquer justificativa plausível na atual sociedade para serem praticados, a não ser, para reproduzirem, na prática e ideologicamente, a violência e humilhação que sofremos dia-a-dia nesse mundo desumano.
Trotes desse tipo não podem ser compreendidos como algo positivo, pois reforçam justamente a lógica do capital de colocar o trabalhador contra trabalhador, estudante contra estudante, ser humano sobre ser humano, partindo de uma posição hierárquica do mais poderoso e menos poderoso, como se um ser humano fosse mais importante que outro pelo fato de ter mais conhecimento ou mais experiência em determinada coisa. Dessa forma, essa prática de violência e humilhação não deve ser levada adiante pelos “veteranos” de segundo semestre, que por terem sofrido ao entrar queiram descontar naquele que está entrando. É inconcebível que um aluno mais novo tenha como referência um sujeito que usou de humilhação e violência para intimidar os colegas, só pelo fato de serem calouros, e que assim como ele passou pelo mesmo processo seletivo para ingressar na universidade.
Dessa forma, defendemos uma recepção acolhedora aos calouros, lembrando que tantos outros que também lutaram para tentar entrar na universidade estão do lado de fora do pórtico. Devemos nos colocar enquanto colegas que podem contribuir na formação acadêmica, política e humana, presando pelo acolhimento dos filhos e filhas da classe trabalhadora que adentram a uma universidade pública, que não é gratuita e que passa por uma constante precarização.
Sabemos que esse não foi o primeiro e nem será o último fato que traz à tona a questão dos trotes na universidade. No entanto, precisamos avançar no debate, sair da engraçadinha e traiçoeira aparência das coisas e buscar compreende-las em sua essência, pois tais atos reproduzem justamente a lógica da sociedade que criticamos tanto e que vai de encontro a humanidade que estamos lutando para construir.


  
“Lutamos então por um mundo em que sejamos todos socialmente iguais, humanamente diferentes e completamente livres” (Rosa Luxemburgo).





Coletivo Lutar e Construir
Feira de Santana – BA
05 de maio de 2014

quinta-feira, 1 de maio de 2014

1º de maio é dia de luta!!

Meu Maio

A todos
Que saíram às ruas
De corpo-máquina cansado,
A todos
Que imploram feriado
Às costas que a terra extenua –
Primeiro de Maio!
Meu mundo, em primaveras,
Derrete a neve com sol gaio.
Sou operário –
Este é o meu maio!
Sou camponês - Este é o meu mês.
Sou ferro –
Eis o maio que eu quero!
Sou terra –
O maio é minha era!

Vladimir Maiakovski

1º de maio é dia de luta!!
"Trabalhadores de todo o mundo, uni-vos!"