segunda-feira, 15 de abril de 2013

CARTA DE ABRIL: SOBRE AS ELEIÇÕES PARA O DCE-UEFS


"Hegel observa em uma de suas obras que todos os fatos e personagens de
grande importância na história do mundo ocorrem, por assim dizer, duas
 vezes. E esqueceu-se de acrescentar: a primeira vez como tragédia,
 a segunda como farsa".
(Karl Marx. O 18 de Brumário de Luís Bonaparte)


Diante da conjuntura do processo eleitoral para a gestão do DCE e uma disputa política na Universidade, o Coletivo Lutar e Construir tomou a posição de socializar à comunidade acadêmica o motivo de não disputar as eleições, seja compondo ou apoiando qualquer uma das chapas. Inicialmente, cabe caracterizar o Lutar e Construir com um coletivo composto por trabalhadores e trabalhadores em formação (estudantes), com atuação nos cursos de Educação Física e História, na ExNEEF (Executiva Nacional de Estudantes de Educação Física) e integrante de uma Articulação Nacional.

Essa decisão não surge do além, mas está pautada em relações concretas, quando na gestão anterior compomos a chapa do DCE com o Grupo Ousar. O período de gestão nos mostrou uma relação incompatível de projetos políticos para os rumos do movimento estudantil da UEFS, o que nos levou a um longo período de discussão e chegamos, por fim, a síntese que apresentamos aqui. É necessário esclarecer e livrar das possíveis interpretações oportunistas, que não compondo chapa com o Grupo Ousar, nos colocaria em posição de convergência política com a chapa Levante e Lute, percebendo que esta só se apresentou no período eleitoral; se ausentando das lutas que aconteceram dentro da universidade nos últimos tempos. Ressaltamos ainda, que a presente análise não se desdobrará no campo pessoal e subjetivo, mas no campo político.

A atuação dos coletivos que disputam o DCE neste momento, os programas políticos formulados por eles, bem como o debate da última quinta-feira (11/04/2013) nos fornece uma série de elementos para identificarmos a dissonância entre as propostas colocadas e as necessidades da categoria estudantil da UEFS. Começamos por identificar que, mesmo com uma aparente divergência, o projeto político de ambos os coletivos convergem nas propostas, pois - uma análise atenta dos dois programas - revela que estes apresentam pautas similares. Assim, queremos problematizar: a mudança de chapa no DCE representará uma mudança no cenário político da universidade neste momento histórico? E mais, uma entidade descolada da base dizendo o que o conjunto de estudantes deve fazer é de fato a posição mais acertada?

No cenário da luta de classes, devemos analisar como vem se posicionando o movimento estudantil, identificar os erros cometidos, os erros que se repetem; aquilo que de positivo para categoria foi executado e apontar alternativas para a reorganização efetiva do movimento estudantil priorizando o trabalho de base. Aqui caracterizamos este como: inserção dos coletivos organizados nos cursos e junto aos estudantes; Atuar a partir das pautas econômicas (lutas específicas, como por exemplo, pela estruturação dos cursos) para o salto à pauta política (projeto de universidade, enfrentamento ao Estado Burguês em conjunto com os trabalhadores); Formação política dos estudantes observando que só as vivências do cotidiano não dão conta de irmos a essência do fenômeno a fim de explicar suas raízes e seus fundamentos; Atuar baseados na Práxis militante e convocar os estudantes para compor a luta; Atuar com os estudantes e não em nome deles, e aqui não negamos o papel das direções, entidades e dos coletivos organizados, mas pontuamos que esses instrumentos e organizações sem - sem o respaldo da base - não conseguem avançar nas suas pautas; Atuação por local de Estudo, sempre acompanhando o que acontece nos seus respectivos cursos e universidade, incentivando a tirada de decisões por assembleias de curso e perspectivando autonomia e organização dos estudantes em relação aos partidos políticos, governos e patrões.

Nesse sentido, apontamos que não estamos negando a necessidade de uma entidade, e sim que devemos analisar o momento histórico que estamos vivendo e qual a inserção desta dentro da universidade, também o nível de mobilização que temos no cotidiano da UEFS e buscar nas experiências anteriores, ou seja, mobilizações pela necessidade real dos estudantes - vide exemplo na luta dos estudantes de Educação Física pela reestruturação do parque esportivo, dos estudantes de Odontologia pela construção da clínica e manutenção dos materiais para darem continuidade a sua formação, os estudantes de Engenharia Civil pela quebra da modulação e no geral o conjunto dos estudantes que discutiram durante o processo de ocupação do Restaurante Universitário. Demonstrando assim que os estudantes se mobilizam a partir das contradições colocadas no seu dia a dia para resolverem problemas específicos.

Partimos da compreensão que a atitude de disputar o DCE não deve preceder ações que primem pela formação, levando em consideração os níveis de organização dos estudantes. Assim, também pontuamos ser outro erro se acharmos que não iremos e/ou devemos nunca ocupar/disputar o DCE quando essa tenha abertura para que consigamos usar a favor dos estudantes e sua organização com autonomia. Portanto, não se trata de fazermos uma análise formal, entre: a) Nunca participar das entidades e b) Sempre participar para ajudarmos a organização independente dos estudantes. É preciso que atuemos por dentro e por fora dessas entidades, mas que o objetivo seja o de sempre organizarmos os estudantes independentemente e com autonomia. Então, partindo do momento conjuntural da UEFS defendemos que devemos retomar o trabalho nas bases para que o instrumento do DCE seja um real potencializador das lutas dos estudantes.

Portanto, a postura do Coletivo Lutar e Construir parte da divergência política em relação ao projeto que as duas chapas reivindicam. Não queremos trazer respostas prontas e receitas de como fazer movimento, mas devemos fazer a crítica no sentido de avançarmos em relação aos erros cometidos anteriormente pelo conjunto do movimento e não nos isentamos disso. Discutimos aqui a possibilidade política de uma concepção de movimento estudantil pautada na reorganização pela base e como este pode contribuir na luta mais geral da classe trabalhadora. Por isso, ressaltamos que é necessário Lutar e que é possível Construir um projeto de universidade pública, gratuita, de qualidade e um projeto histórico de sociedade para emancipação humana.


Coletivo Lutar e Construir
Feira de Santana – BA
15/04/2013

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