Considerações acerca das eleições: o voto é nulo
e a luta é com os trabalhadores!
"O tipo mais
avançado, mais perfeito de estado burguês é a republica democrática
parlamentar. O poder pertence ao Parlamento; a máquina de Estado, o Estado e os
órgãos de administração são os habituais: Exercito permanente, Policia, e um
funcionalismo público acima do povo, privilegiado e praticamente
inamovível".
(Lênin - "As Tarefas do Proletariado").
(Lênin - "As Tarefas do Proletariado").
Dia 05 de outubro, teremos mais
uma “festa da democracia” como é aclamada por muitos em tempos de processos
eleitorais. No Brasil, essa aclamação é ainda maior, pois, após o longo período
enquanto colônia de Portugal tivemos que conviver com seguidas ditaduras (civil
e militar) e só ao final dos anos 80 conquistamos o Estado democrático.
No entanto, aquilo que sempre se
configura como um direito dos trabalhadores – a democracia e seu direito ao
voto – também pode se tornar o seu contrário. Neste caso, a passagem de Lenin
aqui citada apresenta claramente o caráter de classe do Estado enquanto
administrador dos negócios da burguesia (os empresários e corporações - donos
dos meios de produção necessários para sobrevivência da humanidade) e da
democracia enquanto uma maneira de dominação da burguesia.
Neste sentido, o Estado
democrático é a forma mais adequada de a burguesia garantir seus
interesses e se perpetuar como exploradora do proletariado (os trabalhadores
que vendem sua força de trabalho). Isso, porque, devido a seu poder econômico,
a burguesia garante no parlamento os representantes necessário para garantir
seus interesses, ao mesmo tempo em que o sistema democrático permite que a
população participe do processo, o que dá uma a sensação de plena participação
política e neutralidade do Estado escondendo seu caráter de classe.
Ou seja, podemos afirmar que
apesar do ar aparentemente democrático, a “festa eleitoral” é um jogo de cartas
marcadas em que os grandes empresários podem escolher a carta mais adequada
para administrar seus negócios sem correrem grandes riscos.
O PT, PSDB e PSB, representados
respectivamente nas candidaturas de Dilma, Aécio e Marina, tem no financiamento
de campanha a sua maior arma eleitoreira. Se “quem paga a banda escolhe a
música” não é de se esperar mudanças e transformações a não ser a manutenção do
Estado burguês e a governabilidade favorável às empresas privadas, que a todo o
tempo buscam o lucro. Em consequência precarizam os serviços básicos essenciais
a grande maioria da população como: saúde, educação, transporte coletivo,
moradia, segurança e direitos trabalhistas.
A semelhança entre os partidos
“protagonistas” fica muito clara quando observamos que o alicerce das suas
campanhas está no financiamento privado, que há de ser retornado aos cofres das
empresas após as eleições. Neste sentido, pouco importa o resultado no dia 5 de
outubro, pois o interesse dos grandes empresários e corporações (capitalistas)
estarão garantidos. Assim, não podemos debater e analisar se a aparência
dessas candidaturas tende mais à esquerda ou à direita. A gerência do Estado burguês será
sempre de interesse das empresas, que ao buscar os lucros como fim último
aviltam as condições de vida e trabalho da classe trabalhadora. Esta, por sua
vez, deve defender uma produção planejada, não visando lucro, mas sim as
demandas sociais e distribuição da riqueza produzida pelos próprios
trabalhadores.
As doações – que podemos chamar
de investimento – para as eleições de 2014 somam mais de 1 bilhão de reais,
tendo 19 empresas como as principais financiadoras da democracia burguesa. As
construtoras tem o maior protagonismo nesse processo: juntas, a OAS, Andrade
Gutierrez, UTC, Queiroz Galvão e Odebrecht somam em torno de 300 milhões. O
Partido dos Trabalhadores lidera a corrida presidencial por doações, com um
montante de 123 milhões, logo em seguida vem o PSDB, do candidato Aécio Neves,
que arrecadou 46 milhões de reais e o PSB de Marina Silva com 23 milhões em
doações.
Frente a esse cenário, a esquerda
não consegue enfrentar os partidos da burguesia de maneira organizada,
unificada e com o programa que esteja alicerçado nos interesses objetivos da
classe trabalhadora. No atual
ciclo de lutas não temos um partido da classe proletária que esteja enraizado
em meios aos trabalhadores. Ainda assim, os pequenos partidos da esquerda
(PSOL, PSTU, PCB, PCO) não conseguiram, ao menos, montar uma unidade em torno
de um programa mínimo que pudesse expressar com mais peso e aderência entre os
trabalhadores, ter mais tempo nas mídias para fazer propaganda das pautas e
denunciar as contradições da eleição burguesa e realizar atividades de campanha
mais ampliadas (debates, formação política e atos).
No pouco tempo que cada um tem,
não conseguem fazer uma propaganda qualificada em torno dos interesses dos trabalhadores
e estudantes. Mesmo que alguns ainda se esforcem para qualificarem a propaganda
socialista – e esses tem ainda menos tempo – no geral, o que temos são
programas rebaixados. Alguns democráticos e populares não fazem uma denúncia
clara ao caráter de classe do Estado e sobre a quem interessa o pleito
eleitoral.
Acreditam de fato que há a
possibilidade de garantir gradativamente a ampliação de direitos e mudança do
modo de sociabilidade vigente através de cargos no parlamento e gastam o pouco
dinheiro e energia militante dos partidos para elegerem alguns deputados. O
próprio Estado possui uma estrutura burocrática dividida em Executivo,
Legislativo (constituído por dois poderes decisórios: câmara e senado) e
judiciário que impede justamente que haja esse avanço gradativo.
Dessa forma, visto que os
principais candidatos à presidência não irão governar para os trabalhadores, já
que são administradores dos negócios capitalistas e os partidos de esquerda não
conseguem dar uma resposta qualificada, optamos pelo voto nulo como forma de
rechaçar o processo da farsa eleitoral e de denúncia do caráter de classe do
Estado.
Vale ressaltar que nossa posição
pelo voto nulo não é um principio. Nossa posição é conjuntural por entender que
no atual momento histórico não há uma alternativa que de fato carregue os
interesses dos trabalhadores e dos trabalhadores em formação e que estejam
inseridos em suas lutas concretas. A
reavaliação desta posição é condicionada a novos momentos conjunturais.
Destarte, nos posicionamos pelo
voto nulo. Mas estamos mais ao lado daqueles combativos que votam nos partidos
da esquerda, compreendendo o papel do Estado e a necessidade de sua superação,
do que ao lado daqueles que votam nulo por desacreditarem na importância da
organização partidária na luta de classes. Importante é que não alimentemos a
ilusão dos trabalhadores em torno do processo eleitoral e do Estado, pois
“ilusões desarmam os trabalhadores e enfraquece a sua luta contra o poder
burguês [1]”.
Coletivo Lutar e Construir
Bahia,
04 de Outubro de 2014.
[1] ORM-POLOP, Os trabalhadores e a Constituinte, 1985.