O VOTO É NULO, A LUTA É COM A BASE E PELA QUESTÃO ORÇAMENTÁRIA!
“A carne nova é comida com os velhos garfos[...]
Das novas antenas vieram as velhas bobagens.”
(Bertolt Brecht, As Novas Eras)
Uma roupagem aparentemente nova, nada mais que
aparência, vestido em sua essência com as velhas práticas que há tempos recheiam
o cotidiano do movimento estudantil da UEFS. Assim se apresentam as chapas que
atualmente disputam as eleições para o Diretório Central dos Estudantes
(DCE)/UEFS, gestão 2014–2015.
De dois anos para cá a sedenta senhora, Chapa 1-
“Sempre em frente, não temos tempo a perder” do movimento Levante e Lute,
saboreia a última gestão ao ponto de se empanturrar e não ter forças para se
levantar e lutar por elementos concretos que realmente atendam às verdadeiras
necessidades dos estudantes; sempre munida com os velhos garfos. Do outro lado,
a Chapa 2 “O novo sempre vem”, tentando convencer com a roupagem do “novo”, mas
o seu conteúdo nada mais é que uma “antena” receptora e difusora dos velhos
vícios.
Para nós, é importante apontar que a política e as
atitudes tocadas por ambas não são fruto apenas da subjetividade e da vontade
dos grupos que integram as duas chapas, mas que suas formas de atuação são
expressões da maneira de militar que está enraizada hoje em boa parte das
organizações que se reivindicam enquanto esquerda. Referimo-nos à herança
democrática e popular que tem o Partido dos Trabalhadores (PT) como sua maior
expressão no Brasil.
Não é um elemento vago do texto o fato de termos
apontado a semelhança entre as duas chapas desde o início desta nota. Se formos
a fundo, veremos as ligações históricas com o PT e sua política. De um lado, o
“Levante e Lute”, fortemente influenciado pela política do Partido Comunista
Revolucionário (PCR), este que periodicamente utiliza a legenda do PT para
disputar cargos no Estado burguês e receber apoio declarado, nas redes sociais
e em seus eventos, de políticos da base governista. Em uma situação não muito
diferente, “O novo sempre vem”, composto por diversos militantes do Levante
Popular da Juventude/Consulta Popular, é também um veemente leitor da cartilha
reformista e amoldada à ordem. Como se não bastasse todos esses elementos em
comum, ainda defendem a disputa da União Nacional dos Estudantes (UNE), que se
configura como uma entidade burocratizada, totalmente cooptada e que tem
atacado à classe trabalhadora/categoria estudantil. Como exemplo, a defesa do voluntariado na copa, diante do
‘rio de dinheiro’ que a FIFA e o empresariado internacional vem adquirindo.
Vale ressaltar que não negamos a importância e a
necessidade do partido político para a organização dos trabalhadores e
estudantes em luta, contudo, o movimento estudantil deve ser autônomo perante
os partidos. Sobretudo, quando este – PT – é o impulsionador dos lucros dos
grandes empresários nos últimos 12 anos, além de dar migalhas aos trabalhadores
e ter cooptado diversos instrumentos de lutas.
Após leitura cautelosa e criteriosa dos materiais
de campanha das duas chapas, é fácil perceber que ao elencarem pautas diversas,
as chapas que pleiteiam o DCE não conseguem encontrar a centralidade que nos
daria unidade nesse terrível momento vivido pelas Universidades do Estado da
Bahia (UEBA). Seja de forma consciente ou inconsciente, o caráter governista
delas, não as deixam enxergar (a “blindagem” ao governo do estado é mera
coincidência?) que diversos problemas desta instituição estão intrinsecamente
ligados às perversas políticas de precarização adotadas pelo Governo do Estado
Burgo-Petista.
Ou seja, não é apenas o fato de, dentro dos
gabinetes, “cobrar ao Secretário de Educação do Estado o compromisso com a
educação pública” que irá resolver os problemas que nos afetam. O movimento
estudantil não é para isso! É preciso não só ir aos gabinetes em momentos de negociação,
mas, principalmente, é necessário mobilizar a base estudantil para pressionar
reitorias e governos na defesa de nossos direitos, inclusive nos momentos de
negociação, pois, somos mais fortes quando estamos organizados e mobilizados
massivamente.
Defendemos a concepção de que o Movimento estudantil deve ter
independência de governos e reitorias, autonomia perante aos partidos, se
articulação com a luta dos trabalhadores e entidades classistas. Parece-nos que
o atual momento em que avistamos um colapso financeiro nas Universidades
Estaduais da Bahia, o elemento mais geral e aglutinador, não só de nossa
categoria, mas de todas que compõem as UEBA e sofrem com os efeitos desse
arrocho, é a pauta do orçamento,
que, consequentemente, se alinha com as pautas específicas.
Ressaltamos, por fim, que não é princípio a não
disputa do DCE, ou seja, não negamos a importância real desta entidade e nem a
possibilidade de disputarmo-la em algum momento histórico. Entretanto, a
análise da realidade atual e concreta nos desvia do erro de compor uma campanha
que terá fim nela mesmo e nos coloca na obrigação da crítica às chapas que se
apresentam enquanto possibilidades. Apontamos assim, que outros meios de
organização como CEB’s, frentes de luta, DA’s e/ou mobilizações por demandas
especificas dos cursos, bem como, espaços amplos de debate, podem e devem ser
fortalecidos. Por isso saudamos os
grupos e sujeitos que escolheram outros caminhos e espaços de diálogo com a
base estudantil.
Entendemos que a arma da crítica não deve estar
apontada apenas para os outros, mas também para nós.
Porém, não defendemos a unidade a qualquer custo, de forma superficial e com
rebaixamento das pautas. É necessário criar espaços para o debate franco e
fraterno no seio do Movimento Estudantil, apontando nossas divergências,
identificando os caminhos a trilhar e nossos inimigos de classe, e estes não
estão no Movimento Estudantil. Em síntese, explicitamos que - frente às duas
chapas de base petista - a nossa posição para estas eleições do DCE / UEFS,
gestão 2014 – 2015 é: o voto é nulo, a
luta é com a base e pela questão orçamentária!
Coletivo Lutar e Construir
Feira de Santana – BA
18 de maio de 2014
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