08 de março e a luta contra o capitalismo
Mais um 8 de março chegou e, junto com a data, surgem todas aquelas ‘homenagens’ às mulheres: homenagens a sua delicadeza e sensibilidade, a seus incríveis papéis como mães, esposas, ao grande avanço que deram no mercado de trabalho, nas universidades etc, etc. Mas afinal, há o que se comemorar? As mulheres são maioria no planeta, estão entre as mais pobres (mais de 70%), mais exploradas, com os mais baixos salários e ainda precisam carregar uma tripla jornada de trabalho (trabalho, cuidadoras do lar e nas tarefas de reprodução da espécie). Elas carregam o duro fardo de serem duplamente oprimidas: pelo capital e pela escravidão do lar.
Embora vejamos um 8 de março de comemorações e pequenos atos que reivindicam apenas direitos políticos, nem sempre foi assim. O dia internacional da mulher nasceu das mulheres trabalhadoras, de uma experiência real da classe. Foi a partir da auto-organização das mulheres, em conferências internacionais que são construídas na Internacional Comunista, que o dia internacional das mulheres é criado, e que tem sua data finalmente escolhida em 1921(durante vários anos, cada país tinha autonomia para escolher uma data para o Dia da mulher), em lembrança a greve das tecelãs, que foi o grande estopim do começo da primeira fase da revolução russa (a revolução de fevereiro). A experiência da revolução russa trouxe alguns avanços importantes para as mulheres russas, como a criação de infantários públicos, cozinhas e lavanderias coletivas, igualdade legal etc, mas, depois da experiência stalinista e de todo retrocesso que ela trouxe para as mulheres soviéticas, o dia internacional da mulher perdeu todo o seu caráter classista e combativo.
Perdido o caráter de classe do dia internacional das mulheres e a organização internacional das mulheres socialistas, o que restou foi o movimento feminista sufragista, liberalista, pequeno-burguês e reformista para dar conta da organização das mulheres, que, a partir de então, assume um caráter particular que não dialoga com a totalidade social e, portanto, não consegue avançar nas discussões de classe. A crença na possibilidade da emancipação real das mulheres a partir de reformas no sistema, a partir de aquisições de direitos é o que move esses “novos movimentos feministas”, mas como disse muito bem o Lênin:
“O capitalismo alia à igualdade puramente formal a desigualdade econômica e, portanto, social. Essa é uma de suas características fundamentais hipocritamente dissimulada pelos defensores da burguesia e pelos liberais (…)
Mas, mesmo no que se refere à igualdade formal (igualdade diante da lei, a “igualdade” entre o bem nutrido e o esfaimado, entre o possuidor e o espoliado), o capitalismo não podedar prova de coerência. E uma das manifestações mais eloquentes de sua incoerência é a desigualdade entre o homem e a mulher.” (LÊNIN)
Diante disso, compreendemos que o movimento feminista deve lutar por interesses comuns a classe trabalhadora, mas sem esquecer que existem demandas que estão relacionadas a demandas da classe, mas apresentam características especificas das mulheres, como sua condição de mãe, ‘esposa’ e ‘dona-de-casa’. Eis a grande diferença entre as feministas burguesas e as socialistas: enquanto as primeiras reivindicam direitos políticos, inclusive o direito de explorar outras mulheres, as segundas reivindicam direitos para todos os trabalhadores, a emancipação de toda sua classe:
“Qual o objetivo das feministas burguesas? Conseguir os mesmos avanços, o mesmo poder, os mesmos direitos na sociedade capitalista que possuem agora os seus maridos, pais e irmãos. Qual o objetivo das operárias socialistas? Abolir todo o tipo de privilégios que derivem do nascimento ou da riqueza. À mulher operária é-lhe indiferente se o seu patrão é um homem ou uma mulher.
As feministas burguesas demandam a igualdade de direitos sempre e em qualquer lugar. As mulheres trabalhadoras respondem: demandamos direitos para todos os cidadãos, homens e mulheres, mas nós não só somos mulheres e trabalhadoras, também somos mães. E como mães, como mulheres que teremos filhos no futuro, demandamos uma atenção especial do governo, proteção especial do Estado e da sociedade.”( KOLLONTAI, A.)
As feministas burguesas demandam a igualdade de direitos sempre e em qualquer lugar. As mulheres trabalhadoras respondem: demandamos direitos para todos os cidadãos, homens e mulheres, mas nós não só somos mulheres e trabalhadoras, também somos mães. E como mães, como mulheres que teremos filhos no futuro, demandamos uma atenção especial do governo, proteção especial do Estado e da sociedade.”( KOLLONTAI, A.)
A sociedade capitalista é caracterizada pelo trabalho assalariado e extração de mais-valia, construindo relações sociais em que a sociedade é dividida em classes sendo duas principais: aquelas que produzem e vendem sua força de trabalho e aquelas que detém os meios de produção e compram a fora de trabalho. É importante para os burgueses (aqueles que compram a força de trabalho) criar e reproduzir formas de opressão para extrair mais valia da força de trabalho. A força de trabalho feminina executa na mesma jornada de trabalho as mesmas tarefas que a força de trabalho masculina e tem um salário menor. Combater a opressão de gênero é um elemento necessário para combater a classe burguesa. Como comunistas, defendemos o fim do Estado e consequentemente o fim das classes sociais; e não a sua reforma, por isso acreditamos que o movimento feminista não pode fugir disso. Não é a organização das mulheres, de classes distintas, que nos levará a uma emancipação real, é a organização das mulheres trabalhadoras, numa perspectiva socialista que nos levará. Como disse o Iasi , “a luta das mulheres tem um caráter estratégico na transformação integral da sociedade”.
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LÊNIN, V.I. O dia internacional da mulher ( 1920, in: O socialismo e a emancipação da mulher. Editorial Vitória, 1956.
KOLLONTAI, Alexandra. O dia da mulher.
IASI, Mauro. Olhar o mundo com os olhos de mulher?
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